Eu costumava dizer que esse apartamento era no meio do mato, e é verdade. Na nossa janela tínhamos muito verde e o Cristo Redentor bem pertinho. Miquinhos e macacos-prego pulavam de árvore em árvore, além de tucanos, vários passarinhos, e uma vasta variedade de insetos.
Esse apartamento tem história. Meu pai o alugava na época de universidade, na década de 70, tendo dividido com amigos e irmãos. Depois a minha mãe foi morar lá com ele, e os dois compraram o apartamento num famoso leilão que houve no condomínio.
Em setembro de 1981 nasceu a minha irmã, e em janeiro de 1987 nasci eu… Nós duas dividíamos um quarto, pois o apartamento tinha só dois. Os meus pais começaram a comprar um apartamento de 3 quartos em Botafogo mas, quando eu tinha 5 anos, eles se separaram. Eu, minha mãe e minha irmã continuamos morando lá, e o meu pai foi para o novo apartamento.
Tenho algumas pequenas lembranças da época que o meu pai ainda morava lá, mas para mim aquele apartamento é a cara da vida que dividi por tanto tempo com a minha mãe e irmã.
Quando eu tinha 9 anos, nós fizemos uma grande obra, juntando o quartinho de empregada com parte de um dos quartos, criando assim um novo cômodo: o meu quarto. Ali passei a minha adolescência, meio apertada, mas feliz de ter um cantinho só para mim.
Com o passar dos anos, a nossa situação financeira melhorou um pouco, e pudemos deixar o apartamento "nos trinques". Ele era bom e bonito, e com uma vista maravilhosa. Um belo lugar para se morar.
Mas nem tudo era perfeito, claro… morar "no meio do mato" é lindo e tranqüilo, mas não é muito fácil se você não tem carro. O transporte público em Santa Teresa piorou muito com o passar dos anos e era sempre um estresse sair e voltar para casa.
Quando eu me formei do colégio (que era ao lado do condomínio) e fui estudar no Fundão, a coisa ficou pior ainda. Em alguns dias eu tinha carona, mas nos outros dias eram dois ônibus e mais de uma hora para chegar na faculdade.
Além disso, a violência naquela parte de Santa Teresa aumentou muito e nós tivemos que conviver com alguns momentos bem tensos: inúmeros tiroteios no Morro dos Prazeres, polícia invadindo o morro através do condomínio, constantes assaltos a carros, traficantes armados na porta de casa, e etc...
A cereja no bolo foi a decadência do próprio condomínio Equitativa, que depois de anos de más administrações, estava cada dia pior. Para chegar da rua à praça do condomínio há um elevador estilo plano inclinado. Esse elevador sempre tinha problemas e a opção quando ele estava quebrado era uma escada estreita e íngreme de 116 degraus (além de outras escadas menores depois dessa).
No começo do ano de 2007, o elevador parou de vez, então vocês podem imaginar a minha felicidade ao subir essa escada todos os dias, ao chegar cansada da faculdade.
Um certo tempo depois, a Defesa Civil interditou a escada, pois era bem perigosa (além de íngreme e estreita, não havia nenhuma proteção para não se cair no poço do elevador). A única opção era então subir a longa, sinuosa e escura ladeira de carros, por onde volta e meia entrava a polícia.
Enfim, com todos esses fatores, era hora de sair de lá. Como eu tinha esse estresse do elevador parado (a minha mãe e minha irmã tinham carro, não precisavam passar por isso), fui a que mais apoiou a mudança.
Não era tão simples, claro. A minha mãe investiu muito dinheiro naquele apartamento, com obras e reformas, mas ele estava totalmente desvalorizado, devido à falta de segurança na região.
Mas a decisão finalmente foi tomada e nós passamos vários meses procurando um novo apartamento.
Quando finalmente encontramos um, raspamos nossas poupanças e o compramos. E o antigo vendemos para um amigo da minha mãe (hoje ele aluga para outra pessoa).
Então, no dia 1 de dezembro de 2007, nos mudamos para o novo apartamento e assim terminaram os meus 20 anos morando no apartamento da Equitativa. Foi onde eu passei toda a minha infância e adolescência, e me marcou para sempre. Tenho muitas lembranças de lá e até hoje eu sonho com ele.
Apesar dos problemas, foram 20 anos muito felizes. :)
Já escrevi demais, então vou deixar o resto da minha história sobre apartamento e mudanças para um próximo post.
Deixo vocês com algumas fotos tiradas da janela do apartamento da Equitativa. Linda vista, não?
PS: Em 2009 o elevador da Equitativa voltou a funcionar. E recentemente, com as UPPs, parece que a região está mais pacífica. Eu encontrei essa matéria do Globo falando sobre a revitalização do condomínio.
Que saudade da Equitativa, apesar de tudo! Essas vistas, o cheiro, e nosso apartementinho que era tão a nossa cara! Que infância a adolescência felizes tivemos lá, né, sister?
ResponderExcluirE só uma correção: a escada do elevador tem exatos 116 degraus. E esqueceu da falar que, quando passávamos por ela à noite, havia vários insetos voando, inclusive baratas. Cruzes! hehehe! Não tenho saudade dessa escada...