30 de agosto de 2011

Lugares do Chile - parte XXV: Observatório Astronómico Nacional - Cerro Calán

Continuando com a série de lugares do Chile, hoje vou falar para vocês do meu local de estudo e trabalho: o Observatório Astronómico Nacional (OAN) - Cerro Calán.

O OAN foi fundado em 1852 e sua primeira sede foi o Cerro Santa Lucía, no coração de Santiago. 10 anos depois, ele foi transladado à Quinta Normal (em frente de onde hoje está o Museo de la Memória y de los Derechos Humanos), um lugar mais afastado do centro da cidade, naquela época. Mas Santiago foi crescendo e, em 1910, a Quinta Normal já não era um bom lugar para um observatório. Nesse ano ele foi então novamente transladado, para Lo Espejo, ao sul da cidade.
Já em 1927, o Observatório passou a ser parte do Departamento de Astronomía da Universidad de Chile (DAS), e no final da década de 1950, por questões científicas e políticas, foi finalmente levado para a sua sede definitiva: o Cerro Calán.

Hoje o departamento de astronomia conta com 17 professores, 9 pós-doutorandos e 22 alunos de pós-graduação (mestrado e doutorado). Esse corpo científico faz pesquisa de ponta em astronomia, em colaboração com universidades e institutos de todo o mundo.
Além da pesquisa, o DAS também conta com um programa de divulgação científica. Alguns alunos da pós-graduação (inclusive eu!) atendem o público em visitas diurnas e noturnas, principalmente de colégios.

Mas também temos visitas abertas para o público em geral. Essas ocorrem principalmente nas noites de 4a e 5a feira, e têm um preço de 2500 pesos (aproximadamente R$8,50). Devido ao clima e ao calendário da Universidade, essas visitas só ocorrem de março a maio, e de setembro a janeiro. Qualquer pessoa pode vir, basta reservar com antecedência (até a tarde do mesmo dia) por telefone.

Todas as informações e detalhes dessa visita estão no site do Observatório. Se vocês viram a entrevista que eu dei para a Angélica (aqui), saibam que a visita inclui os mesmos telescópios, além de uma palestra sobre conceitos básicos de astronomia e, no final, observação do céu.

Vale a pena visitar o Cerro Calán! Para chegar aqui basta pegar a linha 1 do metrô até a estação Los Dominicos e de lá pegar um táxi ao observatório (é bem perto, mas é no alto de um morro, então demora um pouco se for a pé).
Qualquer dúvida que vocês tiverem, é só me perguntar. E se planejarem visitar o observatório na sua próxima viagem ao Chile, me avisem o dia, para que eu possa atendê-los (é sempre um prazer receber conterrâneos).

Deixo então as fotos dos telescópios mostrados na visita. Espero vocês no Cerro Calán! :)

Telescópio Heyde
Telescópio Goto

27 de agosto de 2011

Bonde de Santa Teresa

Estou muito triste e revoltada com o acidente que ocorreu hoje com o bonde de Sante Teresa. Mais uma vez a famosa crônica de uma morte anunciada: o descaso do governo do estado acaba com a vida das pessoas. Literalmente. 5 mortos num acidente que poderia ter sido evitado se houvesse renovação e manutenção constante nos bondes.

Nem posso imaginar a dor das famílias que perderam seus entes queridos nesse triste episódio. A eles só posso dar os meus pêsames e desejar força e justiça.
Quanto à mim, sinto como se um grande amigo tivesse se acidentado e estivesse à beira da morte. Morei toda a minha vida (antes de vir ao Chile) em Santa Teresa e o bonde esteve sempre presente no meu dia a dia.

O querido bonde de Santa vai fazer 115 anos daqui a 5 dias. E muito mais do que uma atração turística, o bonde é um meio de transporte essencial para centenas de moradores de Santa Teresa, que vão e voltam de seus trabalhos todos os dias com ele.

Mas há anos que os problemas vão se acumulando, junto com a ameaça de privatização.
É, faz tempo que o governo quer privatizar o bonde, acabar com esse meio de transporte democrático e barato e transformá-lo unicamente numa atração turística.
O babaca do Julio Lopes, secretário estadual de transporte há vários anos, deve estar feliz agora. É a desculpa perfeita para a privatização ou para acabar de vez com o bonde, não é?

Claro, as únicas coisas que importam são a Copa do Mundo e as Olimpíadas. E, veja só, Santa Teresa é um dos grandes cartões postais da cidade, apareceu até no desenho animado Rio.
Todos os dias, e principalmente nos fins de semana, o bairro é infestado de turistas (estrangeiros, de outros estados, e cariocas). Tudo muito lindo, tudo pitoresco, tudo é festa. E enquanto isso... os bondes, com sua falta de manutenção e pouca freqüência, andam abarrotados de gente e são um perigo constante.

Agora o serviço de bondes foi suspenso e a perícia está sendo feita. E, mais uma vez, pessoas que não sabem nada sobre o bairro e o bonde vão decidir o seu futuro, pensando unicamente no lucro e imagem.
Em 2007 o governo autorizou uma reforma no sistema de bondes que até hoje causa vítimas e problemas: a tal tecnologia VLT, que funciona muito bem em trens e metrôs, não está adaptada para ruas inclinadas e sinuosas de Santa Teresa. A associação de moradores do bairro e os funcionários do bonde (que há décadas cuidam de sua manutenção) alertaram, mas é claro que as autoridades não ouviram. Eles nunca ouvem.

Agora é hora de se mobilizar e agir a favor do bonde. Ao ler as notícias sobre o acidente em vários jornais online, observei que quase todos os comentários são de críticas ao descaso do governo do estado. Nós não somos bobos, Sérgio Cabral!
Viva o bonde de Santa Teresa e abaixo ao governo corrupto do estado do Rio de Janeiro!

Foto que tirei do bonde andando pelas ruas de Santa, há uns três anos atrás
Atualização: A AMAST (Associação dos moradores e amigos de Santa Teresa) divulgou dois excelentes comunicados sobre o tema. Leia aqui e aqui, vale a pena.

23 de agosto de 2011

Salada de cuscuz marroquino

Está procurando uma receita fácil de fazer, saudável e gostosa? Seus problemas acabaram! hehehehe

Eu descobri essa receita há uns dois anos, no site Panelinha. Desde então já a fiz algumas vezes, com diferentes acompanhamentos. Carne, frango, peixe, ratatouille... Fica sempre uma delícia! Nhams! :P

Hoje me deu vontade de comer cuscuz marroquino, então resolvi compartilhar a receita aqui com vocês também. Bom apetite! :)

Salada de cuscuz marroquino 

Ingredientes:
- 1 xícara de cuscuz marroquino
- 1 cenoura média
- 1/2 pimentão verde
- 1/2 cebola roxa (ou cebola normal)
- 1 xícara de tomates cereja (ou 2 tomates normais)
- 1 xícara de caldo de legumes (água + 1 tablete)
- Suco de 1 limão
- 2 colheres (sopa) de azeite de oliva
- 2 colheres (sopa) de salsinha picada
- 2 colheres (sopa) de hortelã picada

Modo de preparo:
- Corte a cenoura, cebola e pimentão em cubinhos. Corte os tomatinhos ao meio. Reserve.
- Leve ao fogo uma panela pequena com a água e o tablete de caldo de legumes. Quando ferver, acrescente os legumes picados e deixe cozinhar por 5 minutos com a panela tampada.
- Numa tigela grande, coloque o cuscuz marroquino e regue com o caldo de legumes bem quente. Tampe a tigela com um prato, para que o cuscuz cozinhe no próprio vapor. Quando esfriar, solte-o com um garfo e acrescente o resto dos ingredientes. 
- Sirva à temperatura ambiente ou leve à geladeira para servir frio.

22 de agosto de 2011

Feliz aniversário!

Opa, o meu blog fez aniversário no sábado e eu nem percebi. Coisas de uma vida bem ocupada.
Mas nunca é tarde para celebrar! hehehe. :)

Fico contente de ter mantido o projeto de escrever as caraminholas da minha cabeça e outras bobagens nesse blog. Que venham mais anos!

E obrigada ao meu pequeno grupo de leitores pelas visitas e comentários!

Até o próximo post! :D


18 de agosto de 2011

O dia que nevou em Santiago

Eu moro em Santiago há dois anos e meio. Já fui à Cordilheira dos Andes várias vezes nos invernos e aproveitei bem a neve. Mas nunca tinha visto nevar na cidade.
Bom, esse é um evento raro. Em geral, só cai um pouquinho de aguanieve nas regiões mais altas da cidade, e pronto. Eu praticamente já tinha abandonado a minha esperança de ver as ruas de Santiago com neve.

Mas eis que, hoje de manhã, vi a notícia de que havia nevado em alguns pontos da cidade. Aqui em casa só caía chuva e estava um frio fenomenal, mas nada de neve.
Um pouco antes do meio-dia peguei o metrô para ir à comuna de Providencia, onde tinha que resolver algumas coisas. Ao sair do metrô na estação Los Leones, vi que estava nevando.

Nossa, sabe aquelas cenas de filme onde começa a nevar na cidade e as pessoas sorriem e ficam alegres?
Foi assim mesmo! Eu não contive as lagriminhas nos olhos, foi tão lindo! E todo mundo sorria de orelha a orelha, tirava fotos e filmava. Um momento emocionante.

Passados 20 minutos de apreciação da neve, eu tive que ir para o meu compromisso. Mas a imagem dela caindo nas ruas de Santiago não me saía da cabeça. Lindo, lindo, lindo! :D

No Cerro Calán (onde eu faço doutorado) nevou muito mais. O Observatório está num morro na parte alta da cidade, então já viu! Eu não fui lá hoje, porque fazia muito muito frio de manhã (hehehe) e de tarde tinha o meu compromisso em Providencia. Mas uma companheira de doutorado tirou fotos do Observatório coberto de neve, muito legal! Espero que neve novamente por lá, para eu poder aproveitar!

Deixo vocês com uma foto e um vídeo que fiz da neve caindo em Providencia, e uma foto que a minha companheira de doutorado tirou no Observatório. Se clicar nas fotos, aumenta de tamanho.
Morram de inveja! hehehe

Neve caindo em Providencia
Neve no Observatório - Cerro Calán 



14 de agosto de 2011

Família

Uma das coisas mais difíceis de se morar fora do país é estar longe da família. A saudade é uma constante quando estamos longe.

Mas, para matar um pouco da saudade, nesse último mês recebi 15 visitas familiares: pais, irmãos, tios, primos e agregados...
O momento talvez não tenha sido o ideal, pois ainda estou muito enrolada com o trabalho. Mas as visitas da família são sempre maravilhosas e divertidas!

A família é certamente uma das coisas mais importantes da minha vida e, mesmo longe, eles estão sempre presentes!
Deixo vocês com duas fotos das visitas familiares e um abraço apertado na minha querida e grande família! :)

Visitas - parte 1: Família reunida na minha casa

Visitas - parte 2: Família reunida numa cabana em Farellones

5 de agosto de 2011

Luta por uma melhor educação no Chile

2011 está sendo um ano bem conturbado em Santiago de Chile. Eu moro aqui há dois anos e meio, e sempre vi alguns protestos nas ruas. Mas, nos últimos meses, os protestos têm sido cada vez mais freqüentes e mais fortes.

Tudo começou com as marchas contra o projeto da hidroelétrica de Aysen, e logo depois vieram as marchas dos estudantes, secundaristas e universitários.
O fato é que a educação aqui tem muitos problemas. A educação básica tem problemas estruturais muito similares ao Brasil, e a educação superior é toda paga. Isso mesmo, até as universidades públicas aqui são pagas (e bem caras).
Quase todos os jovens chilenos recém-formados já começam a sua vida profissional com uma dívida enorme, por causa do crédito que tiveram que pegar para custear a sua educação superior.

Isso é uma herança do governo militar. Mas os 20 anos de governo de centro-esquerda que vieram em seguida não melhoraram em nada o tema da educação. E agora, com um governo de direita que só pensa no lucro, os estudantes resolveram bater o pé e protestar forte, para ver se conseguem alguma mudança.

Para ontem, os estudantes secundaristas convocaram uma marcha para às 10h30 e os universitários e professores para às 18h30. Ambos grupos queriam marchar pela Alameda (a principal avenida de Santiago), saindo da Plaza Itália e chegando até o Palácio La Moneda.
Mas aqui as marchas têm que ser autorizadas pelo governo (!!!) e essas, apesar de terem sido convocadas com antecedência, não receberam autorização. E ontem pela manhã, 1000 carabineros (a polícia chilena) foram mobilizados para dispersar as pessoas que tentassem se reunir e marchar.

O que se viu em seguida, e durante todo o dia, foi o caos reinar no centro de Santiago. É óbvio que ninguém ia deixar de marchar (onde já se viu o governo dizer que não se pode protestar? que coisa mais autoritária!) e a repressão dos carabineros foi muito forte.
Cenas de violência, muita correria, bombas de gás lacrimogêneo e carros lança-água. O que era para ser uma marcha tranqüila pela Alameda virou uma confusão generalizada pela cidade, com violência gerando mais violência.
A marcha dos universitários se emendou com a dos secundaristas, e os carabineros pegaram cada vez mais pesado. Por volta das 20h, as pessoas em suas casas começaram um cacerolazo, batendo panelas para manifestar o seu apoio aos estudantes e seu repúdio à repressão.

Já esperando um dia conturbado, eu fiquei trabalhando em casa ontem. E pude ver tudo pela televisão, ou pela janela do meu apartamento.
Morar no centro de uma capital federal tem dessas coisas, principalmente em épocas como essa. De noite, o meu quarteirão foi fechado por barricadas com fogo, helicópteros sobrevoavam a região e o gás lacrimogêneo infestava o ar do meu apartamento, mesmo com as janelas fechadas. O mesmo se repetiu em todo o centro da cidade, com cenas que não eram vistas desde a época da ditadura.

Mesmo sendo uma estrangeira que vê o problema de fora, eu manifesto o meu total apoio aos estudantes chilenos. Espero que eles não esmoreçam, e que depois de tantos protestos, alguma mudança real possa ser feita na educação.
Espero também que essas cenas de violência não se repitam, e que o governo pare com sua atitude autoritária e repressiva.  Foi muito triste ver tudo isso, mas também foi bom ver o povo todo mobilizado.

Deixo vocês com duas fotos que tirei da minha janela. Para os que queiram ler um relato mais completo sobre o dia de ontem, há uma ótima reportagem nesse link.

Estudantes secundaristas correndo dos carabineiros de manhã
Barricada com fogo e o ônibus dos carabineiros de noite