5 de agosto de 2011

Luta por uma melhor educação no Chile

2011 está sendo um ano bem conturbado em Santiago de Chile. Eu moro aqui há dois anos e meio, e sempre vi alguns protestos nas ruas. Mas, nos últimos meses, os protestos têm sido cada vez mais freqüentes e mais fortes.

Tudo começou com as marchas contra o projeto da hidroelétrica de Aysen, e logo depois vieram as marchas dos estudantes, secundaristas e universitários.
O fato é que a educação aqui tem muitos problemas. A educação básica tem problemas estruturais muito similares ao Brasil, e a educação superior é toda paga. Isso mesmo, até as universidades públicas aqui são pagas (e bem caras).
Quase todos os jovens chilenos recém-formados já começam a sua vida profissional com uma dívida enorme, por causa do crédito que tiveram que pegar para custear a sua educação superior.

Isso é uma herança do governo militar. Mas os 20 anos de governo de centro-esquerda que vieram em seguida não melhoraram em nada o tema da educação. E agora, com um governo de direita que só pensa no lucro, os estudantes resolveram bater o pé e protestar forte, para ver se conseguem alguma mudança.

Para ontem, os estudantes secundaristas convocaram uma marcha para às 10h30 e os universitários e professores para às 18h30. Ambos grupos queriam marchar pela Alameda (a principal avenida de Santiago), saindo da Plaza Itália e chegando até o Palácio La Moneda.
Mas aqui as marchas têm que ser autorizadas pelo governo (!!!) e essas, apesar de terem sido convocadas com antecedência, não receberam autorização. E ontem pela manhã, 1000 carabineros (a polícia chilena) foram mobilizados para dispersar as pessoas que tentassem se reunir e marchar.

O que se viu em seguida, e durante todo o dia, foi o caos reinar no centro de Santiago. É óbvio que ninguém ia deixar de marchar (onde já se viu o governo dizer que não se pode protestar? que coisa mais autoritária!) e a repressão dos carabineros foi muito forte.
Cenas de violência, muita correria, bombas de gás lacrimogêneo e carros lança-água. O que era para ser uma marcha tranqüila pela Alameda virou uma confusão generalizada pela cidade, com violência gerando mais violência.
A marcha dos universitários se emendou com a dos secundaristas, e os carabineros pegaram cada vez mais pesado. Por volta das 20h, as pessoas em suas casas começaram um cacerolazo, batendo panelas para manifestar o seu apoio aos estudantes e seu repúdio à repressão.

Já esperando um dia conturbado, eu fiquei trabalhando em casa ontem. E pude ver tudo pela televisão, ou pela janela do meu apartamento.
Morar no centro de uma capital federal tem dessas coisas, principalmente em épocas como essa. De noite, o meu quarteirão foi fechado por barricadas com fogo, helicópteros sobrevoavam a região e o gás lacrimogêneo infestava o ar do meu apartamento, mesmo com as janelas fechadas. O mesmo se repetiu em todo o centro da cidade, com cenas que não eram vistas desde a época da ditadura.

Mesmo sendo uma estrangeira que vê o problema de fora, eu manifesto o meu total apoio aos estudantes chilenos. Espero que eles não esmoreçam, e que depois de tantos protestos, alguma mudança real possa ser feita na educação.
Espero também que essas cenas de violência não se repitam, e que o governo pare com sua atitude autoritária e repressiva.  Foi muito triste ver tudo isso, mas também foi bom ver o povo todo mobilizado.

Deixo vocês com duas fotos que tirei da minha janela. Para os que queiram ler um relato mais completo sobre o dia de ontem, há uma ótima reportagem nesse link.

Estudantes secundaristas correndo dos carabineiros de manhã
Barricada com fogo e o ônibus dos carabineiros de noite

Nenhum comentário:

Postar um comentário