27 de agosto de 2010

Terremoto

Há exatos 6 meses a terra tremeu forte aqui no Chile: um terremoto de 8.8 graus na escala Richter.
Era 3h48m da madrugada quando começou o evento que iria marcar a história recente do país, e a minha também.
Para algumas pessoas foi apenas um tremor a mais, para outras significou a perda de suas casas, ou pior, de suas famílias. Para mim, foi uma situação pela qual espero nunca mais ter que passar. Talvez o fato de eu estar sozinha naquela noite contribuiu para o trauma. Estar no 19º andar de um prédio também não ajudou. O fato é que até hoje tenho pesadelos com terremotos e não gosto da sensação de coisas balançando.
Claro, o importante é que eu não sofri nada grave e a vida continuou o seu curso. Hoje faz 6 meses, e achei que era hora de liberar um pouco daquela tensão. Aí desencavei um relato que escrevi naquele dia, para uma repórter do Diário de SP, que nunca o publicou.

Eram por volta de 3h30 da manhã quando começou o terremoto. Eu já estou morando no Chile há um ano e já havia sentido alguns terremotos fracos e de curta duração, mas dessa vez os tremores foram muito mais fortes e duraram mais de 1 minuto. Eu moro num apartamento no 19º andar de um prédio no centro de Santiago e, por estar tão no alto, senti mais do que outras pessoas na região. Fiquei parada no meu quarto enquanto as coisas tremiam muito ao meu redor, ouvia também o barulho das coisas batendo e caindo no resto da casa. Tive medo.
Quando as coisas finalmente pararam de tremer, fui checar a casa. Muitas objetos caíram no chão, inclusive garrafas e copos de vidro que se quebraram, e também móveis e eletrodomésticos. Não havia mais energia elétrica e nem água e eu não conseguia usar o celular, cuja rede estava congestionada. Um pouco depois comecei a ouvir um barulho de alarme no corredor do prédio e fui checar o que era... era o alarme de incêndio, mas não havia fogo. Havia sim água, no chão do corredor, escapando pela porta da escada de emergência. Os vizinhos falaram que foi uma das caixas d'água do edifício que se rompeu.
Eu estava muito assustada, sozinha no meu apartamento. Vi pela janela que algumas pessoas foram para a rua e que havia uns pequenos destroços de alguma coisa no meio da rua, mas eu não consegui identificar o que era. Alguns carros passavam e ouviam-se muitas sirenes. Vi o carro dos bombeiros passar e muitas ambulâncias. Depois vieram os carabineiros (a polícia), passando bem devagar, checando cada prédio, e dizendo pelo auto-falante para mantermos a calma e permanermos em casa.
As horas passaram muito lentamente. O sol só ia começar a nascer às 7h30 da manhã e a escuridão tornava as coisas muito piores. Fiquei sabendo das notícias pelo rádio e assim me informei da magnitude do desastre. Fiquei feliz que nada sério me aconteceu.
Enquanto o tempo passava, senti mais vários tremores. Mas nenhum tão forte ou tão longo quanto o primeiro.
Por volta de 11h da manhã voltou o serviço de energia elétrica. Pude finalmente me conectar à internet e tranqüilizar meus amigos e familiares. O dia foi passando com mais tremores fracos, sirenes, helicópteros e alertas para nos mantermos em nossas casas, a não ser que fosse absolutamente necessário sair.
No momento estou em stand-by, esperando que mais nada sério aconteça. Acompanho as notícias sobre a destruição e vítimas com tristeza. E também me sinto muito aliviada, pois havia planejado uma viagem para Chillán (uma das cidades mais afetadas pelo terremoto) para esse fim de semana. Eu teria viajado ontem de tarde, mas acabei adiando. Não consigo nem pensar no que poderia ter acontecido se eu tivesse feito essa viagem...
Agora só me resta ficar em casa e esperar. Já sei que mais tremores estão por vir nos próximos dias e já deixei uma mochila pronta, para qualquer emergência.


Sala do meu antigo apartamento, após o terremoto

3 comentários:

  1. Eu acho que parte desse relato foi publicado sim. Eu lembro que o Felipe me mostrou quando teve o terremoto e falou que conhecia você.

    ResponderExcluir
  2. Na verdade, quem me publicou foi o G1, para lá eu escrevi um relato mais curto.
    Aí a repórter do Diário de SP me encontrou no orkut e me pediu um relato mais detalhado. Mas não chegou a publicar.

    ResponderExcluir
  3. Ahh sim! Foi mesmo no G1 que ele me mostrou.

    ResponderExcluir