20 de agosto de 2010

Traduzir-se

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
_ que é uma questão
de vida ou morte _
será arte?


Ferreira Gullar 

Sempre gostei desse poema e acho que é uma boa maneira de começar.
Decidi que o blog não vai ter nenhum tema específico, será uma colagem de coisas que eu gosto, de partes de mim.
Talvez uma maneira de conhecer-me melhor. Ou talvez simplesmente um monte de coisas sem sentido.

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